quarta-feira, 22 de outubro de 2014

NAVEGANDO PELO PACIFICO II

 

EQUADOR

Esmeraldas

 

Nosso destino, no Equador, era a cidade de Manta, onde o Yann tinha negócios a fazer. Entretanto, como necessitávamos de combustível e mantimentos, resolvemos entrar em Esmeraldas.

Chegamos pelas 16 horas.  A chegada foi um pouco tumultuada. Como a entrada era pela foz do Rio Esmeraldas e era época de chuvas, haviam inúmeras árvores, troncos e galhos que dificultavam a navegação. Tanto que uma embarcação da guarda costeira veio ao nosso encontro para orientar o caminho seguir.

Ultrapassado o perigo, entramos na baía e, imediatamente, fomos chamados, via rádio, pela autoridade marítima local que nos indicou um local para ancorar. Devidamente ancorados, recebemos a visita da autoridade marítima.

Ah!, em Esmeraldas não tem clube náutico nem marina, motivo pelo qual nos indicaram local para ancorar e, em seguida, fomos abordados por uma embarcação deles, cujos tripulantes fizeram uma vistoria no barco.

Disseram que o capitão da embarcação deveria apresentar-se, pessoalmente, à autoridade marítima. Lá fui, num bote da Armada Chilena, munido de todos os documentos. Conduziram-me até uma sala onde estava sentado um oficial que me cumprimentou e ao qual apresentei os papéis. Ai entrou outro oficial, um tenente, ofereceu-me uma cadeira e, de pé, impoluto, na minha frente, disse que dispúnhamos de 48 horas para deixar o país, pois havia uma lei nova que assim determinava. Pareceu-me um pouco perdido pois, logo após nos esclareceu que poderíamos ficar se dispuséssemos de um agente. Expliquei que, cada vez que chegamos em algum país, a primeira ação é nos apresentar à autoridade marítima. Desta feita não foi possível, porque fomos abordados antes que pudéssemos procurá-las. Expliquei que entramos naquele local porque precisávamos de combustível e víveres. Ele pareceu, então, ter compreendido o procedimento e, a partir daí, embora tivesse que cumprir a determinação legal, mostrou-se mais tolerante e disposto a nos ajudar na aquisição de combustível.

Como demonstrei interesse em oficializar nossa presença – até porque a licença valeria para todo o país –, o Tenente chamou um funcionário de um escritório de despachantes que prometeu entrar em contato, pelo rádio, à noite. Até hoje estou esperando.

À noite eu estava sózinho no veleiro – Eduardo e Yann haviam saido para tentar comprar um chip para internet – quando chegou o pessoal da imigração. Tudo de novo! Disseram que não podiamos estar ali, expliquei tudo novamente, quando um soldado da Armada que os conduzira, falou pelo telefone com o oficial que referi acima, sendo esclarecido as condições da permanência, o que foi aceito por eles.

No dia seguinte, fomos tentar abastecer num posto ali próximo que, ao que parecia, abastecia todos os pescadores da região. Colocamos o Guga Buy no pier do posto. Começou outra novela. Não podiam vender combustível para estrangeiros (ao menos nos permitiram abastecer de água). Aí a coisa ficou preta. Como dar continuidade à viagem sem combustível? Ainda mais que o vento sempre soprava de sul-sudeste, na cara. Aí, ficamos mais perdidos que cachorro que cai de caminhão de mudança. Fazer o que? Procurar quem? Lembrei, então, da oferta do tenente em nos ajudar, caso necessário. Fomo até ele, expliquei a situação, nos sugeriu procurar um posto particular, ficando à disposição, caso não conseguissemos, de resolver nosso problema. Imagino que usaria sua autoridade para conseguir o combustível.

Ocorre que aquele posto, onde nos recusaram a venda, é do governo, daí a proibição de venda para estrangeiros. Presumi que o valor é subsidiado.

Munidos das  bombonas de combustível, tomamos um taxi que nos levou em dois postos particulares. O primeiro não quis vender diesel em bombonas. O segundo nos vendeu sem questionar nada. Não lembro o valor do diesel, mas foi muito barato. Aproveitamos o taxi, também barato, e paramos num supermercado, grande e  muito bem sortido, onde fizemos as compras.

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Árvores flutuando na entrada da baía.

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Baía onde ancoramos. O prédio amarelo é a Capitania.

 

Abastecemos e rumamos para o porto de Manta.

 

Manta

Chegmos em Manta no dia 11 de abril.

Cerca de 20 milhas de Manta, cruzamos a linha do equador pela segunda vez, agora pelo pacífico.

Passagem equadr sendCruzando o equador pelo Pacífico

A navegação foi tranquila, mar de almirante.

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Yann, aproveitando o mar calmo para fotografar…

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…uma canoa de pescadores bem velada.

Pouco antes de chegarmos, quando conseguimos conexão telefônica, o Yann telefonou para uma empresa local, com a qual mantém negócios e pediu para nos indicar um agente, pois já sabíamos da necessidade de contratar este tipo de serviço. Contatamos o agente e já mandamos fotos dos documentos necessários para a imigração, via internet, para agilizar o trabalho.

Explico: em alguns países, como Colombia, Equador e Peru, para ingressar no país com embarcação particular, é necessário contratar um agente que, na verdade, é um despachante, para fazer os procedimentos de imigração.

Ao chegarmos, fomos ao local de ancoragem – o Iate Clube de Manta – e, como o agente ainda não havia chegado, fui até a Capitania, ali próximo e tentei fazer os procedimentos de imigração pessoalmente. Não aceitaram. Só com agente. Depois fiquei sabendo que o agente contratado era responsável junto à autoridade matítima e imigratória, não só pela parte burocrática, mas pela embarcação e tripulantes. Era como se fosse um represetante nosso junto às autoridades.

Retornei ao clube e já la estava o agente. Acertei o valor de seu serviço – US$ 300,00 – a ser pago somente quando zarpassemos. Até porque ele ficou com os passaportes para fazer a imigração.

Cerca de uma hora depois, o agente levou a bordo do Guga Buy os oficiais da Capitania, Imigração, Agência Sanitária e Guarda Costeira, para que procedessem a fiscalização. Isso ocorreu à tardinha. Foram bastante amáveis, mostraram bastante curiosidade pelas coisas do Brasil, o que gerou uma conversa bem descontraída. - Ninguém mencionou a tal lei nova, informada em Esmeraldas -. Findos os trabalhos, oferecemos e aceitaram caipirinha e cachaça brasileira. Ai o papo rolou mais alegre. Sairam do Guga Buy com a sensação (hic!) do dever cumprido!

O valor pago ao agente foi alto, mas ele fez toda a parte burocrática, tanto de entrada como de saída.

Também paguei caro a estadia no Iate Clube: US$ 40,00 a diária. Mas não havia outra alternativa.

Ficamos em Manta 5 dias, durante os quais o tempo sempre estava nublado, com chuvisqueiros eventuais. Aproveitamos para fazer compras e passear, de taxi. Lá é muito barato.

Numa manhã, chamamos um taxi e pedimos para nos indicar um local para tomar o café da manhã. O motorista nos indicou um mercado do peixe, onde haveriam locais para tomar café.

O local era na beira da praia, onde havia muitos veículos de carga estacionados na areia, junto ao mar.

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Nos aproximamos e vimos algo inusitado para nós. Na areia da praia, uma grande quantidade de tubarões já eviscerados, cabeças e vísceras amontoadas num lado, barbatanas em outro e os corpos sendo pesados e embarcados nos veículos.

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Nos informaram que os tubarões seria todos exportados para paises orientais, principalmente as barbatanas, que possuem alto valor no mercado internacional

No mercado, construído com bambus,

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vi, pela primeira vez, as lulas de humboldt, espécie gigante do oceano pacífico. Cada lula é uma refeição para dois ou mais. Veja o tamanho, já limpa, fora a cabeça.

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Camarões de bom tamanho e polvos…

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…atuns gigantes.

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Saindo do mercado, ali próximo, na areia da praia, ao ar livre, a Associação dos Carpinteiros Navais de Manta mantinha diversas grandes embarcações de pesca sendo construidas ou reformadas.

Esta era a oficina deles…

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…e os barcos em obras.

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m Manta, o Yann desembarcou e voltou para o Brasil. Seguimos somente eu e Eduardo, em direção a Lima, no Perú.